domingo, 6 de abril de 2008


Tudo por um bom negócioTinha prometido para mim mesma que tentaria ser econômica, que não me deixaria levar pelo consumismo que invade a sociedade atual e devassa o limite do cartão de crédito, o salário, a mesada, o dinheiro ilícito e lícito, inclusive a aposentadoria dos meros mortais: nós, que somos injustamente perseguidos pela necessidade de comprar o que não precisamos.

Como combater esse vilão que deixa o pobre mais pobre, o quase pobre alerta e o rico - sei lá como é que esse aí se sente. Qual artimanha utilizar para frear os avanços dessa praga moderna? Estou exagerando? Posso me justificar com a decepção de utilizar o que aprendi nas aulas de matemática (na verdade só somei e subtrai) e constatar que gasto demais.

Eu, justamente eu, que batia no peito e dizia: “Eu odeio fast-food americano, as roupas de marcas, e principalmente quem perde a personalidade a cada mudança de coleção das lojas. Hoje em dia tenho uma visão mais aberta, continuo a evitar ser uma cópia das capas de revistas (nem teria grana para isso mesmo). Porém, percebo que tenho comprado por impulso...

Primeiro foi uma câmera digital. Estava na promoção, seria um bom negócio. Achei que seria burrice não comprar, iria me arrepender pelo resto da vida. Insisto: pelo resto da vida e não somente por uns dias ou meses. Se eu fosse à esquina e voltasse na loja, ela já teria sido comprada por um sortudo. Não podia ter esse prejuízo. Comprei.

Dias depois o secador de cabelo estourou na minha mão... Um secador de mil anos, quase relíquia de família. Meu pai disse que iria arrumar. Mas em outro momento de impulso, quando fui comprar um esmalte em uma perfumaria, eis que levo (não de brinde infelizmente), um secador super potente, utilizado por profissionais, com não sei o que antiaderente (ou essa palavra é só utilizada para frigideiras?), potência máxima, mil anos de garantia. Tinha que comprar. Minha vida dependia daquilo, ao menos naquele momento.

Fui comprar um lápis de olho. Mas achei interessante ter um novo rímel, o pó também é necessário. Sem falar em um novo batom. Mas se tenho um batom, terei também de comprar um gloss. Mas a sombra é primordial e o blush dá um toque final. As vendedoras me convencem que tem uma base que faz milagres na promoção. Conclusão. Saí da loja abarrotada de coisas que já tinha em casa e o pior: com a certeza que fiz besteira, que não poderia devolver e que nem maquiagem uso muito.

Já que não posso elaborar uma estratégia de ataque contra as promoções – não há sentido dar um tiro em uma vitrine ou uma rasteira em um manequim- resolvi optar pela estratégia de defesa. Simples:

1. Fazer de conta que meu trabalho é voluntário e esquecer que tenho um salário
2. Pedir para minha mãe guardar meu dinheiro embaixo do coxão dela
3. Quando eu tentar pegar a grana pedir para ela me bater com uma vara de marmelo
4. Processar o meu banco por seus juros absurdos e transtornos causados
5. Jogar meus cartões na rede de esgoto
6. Prometer ao meu cofrinho (um porquinho estimado) que ele jamais será quebrado e sempre alimentado – essa é uma informação falsa, nunca tive um porquinho, mas caso um dia venha ter um, já sabem o que eu faria
7. Começar a cantar alto na rua para encobrir a voz do locutor: “Promoção. Leve um pague dois”
8. Optar viver como Francisco de Assis, ou até mesmo fazer promessa (algum santo dos endividados) de não comprar nada nunca mais
9. Abdicar-me de assistir comerciais de televisão, olhar outdoors e tocar em dinheiro e seus derivados novamente
10. Talvez me vestir com saco de batatas

Na verdade, acho que simplesmente vou maneirar um pouco mais e perceber que dá para viver sem ter toda bugiganga que inventam. Ao menos vou tentar. Simples assim: tentar.

quinta-feira, 3 de abril de 2008


O que é o tempo?

Fico a tentar colocar o tempo em padrões, medidas, dentro de uma caixa, onde ele pode ser observado, analisado e destrinchado. Quero descobrir se a vida é realmente curta, ou se é longa e cheia de dias. Busco fatos, motivos para compreender, uma criança, um adulto, um idoso, em um só. Um mesmo corpo, uma mesma alma e espírito e tantas fases alternadas em tão pouco tempo, ou seria em muito?

Quero entender os olhos cansados de meu avô, com sua bengala vacilante. Sua dependência de outras pessoas para se alimentar, receber sua aposentadoria. Uma pessoa que há alguns anos regia uma casa com sete filhos. O mesmo, em muitos. Como será olhar para traz e se ver, através da lembrança e não reconhecer o que se foi um dia?

Como medir se os anos passaram rápidos e desastrosos, ou lentos e penosos? Ou perceber que foram bem vividos, que decisões tomadas foram acertadas; que despedidas e chegadas tiveram seu quinhão?

Como saber sobre o tempo? Anos que marcam toda uma vida, segundos que mudam o rumo de povos e guerras. Pessoas que escapam da morte por um triz, outras que desistem da vida por falta de sentido. Uns que doam suas vidas para salvar outras. Pessoas que destroem, sem remorso, sem piedade.

Como entender? Percebo os segundos que perco ao tentar ver razão em tudo e buscar resposta para cada incógnita dentro de mim. Percebo que se passam segundos, minutos e toda uma vida para descobrir tudo, ou quase nada. E compreendo que se uma vida é pouco ou muito tempo, depende de quem a vive e como se vive. Para descobrir isso, deixo os questionamentos de lado e vou viver...

Quero responder na prática meus questionamentos. Cada vez descubro que quanto mais busco saber, menos compreendo. Mas, me apaixono mais pelo tempo e suas contradições, dependências, morte, vida, dor, júbilo, entrega e decisão. A decisão de fazer do tempo um aliado, companheiro de toda uma vida. Testemunha das limitações físicas causadas pela idade, das perdas e ganhos de vários anos. Telespectador e agente atuante no desenvolvimento de um ser humano e do maior mistério de todos: a vida.